Imagine, então, 27 anos de cárcere, a maioria deles amargados na Robben Island, a 11 quilômetros da Cidade do Cabo. E imagine Nelson Mandela, personagem de obstinação e convicções pétreas, mas ainda assim feito de carne e osso. Um homem, portanto, que possivelmente se alimentava de tempos em tempos de lembranças de gostos, aromas e ingredientes, misturados ou isolados, mais especialmente aqueles entranhados na sua comida favorita, o bobotie. Quis o destino que o líder mais importante da África Negra na luta contra o apartheid, refundador da África do Sul e Prêmio Nobel da Paz em 1993, tivesse uma predileção justamente pelo prato nacional do país, que ocupava sua mesa sempre que ele, presidente, retornava de uma viagem ao exterior.
Clássico na gastronomia local, o bobotie é essencialmente uma torta de carne bem temperada. Não tão exótico quanto os típicos grilos fritos, mas com o sabor forte e complexo que caracteriza a culinária sul-africana, onde há pratos que combinam até 15 especiarias distintas, do anis ao curry, do gengibre ao cardamomo, onde as variações transitam entre o apimentado e o agridoce num grande banquete de influências multiétnicas.
O cruzamento de tradições e nacionalidades era inevitável, já que a Rota Marítima do Cabo foi ponto de intersecção entre europeus, árabes, asiáticos e quem mais dobrasse o continente. E foi mais ou menos assim que nasceu o bobotie, importado no século XVII da receita indonésia conhecida como bobotok, uma iguaria de vegetais e carne cozidos com polpa e leite de coco dentro de folhas de bananeira. Tudo indica que ela chegou à África do Sul pelas mãos de mercadores holandeses da Companhia das Índias Orientais. Fonte: Revista Sociedade da Mesa #nelsonmandela #bobotie #bobotietimes 🥘🥘🥘 @donamanteiga #donamanteiga #danusapenna #amanteigadas #gastronomia #food #sp #bolos #torta #pie #auladeculinaria http://donamanteiga.com.br/um-prato-no-tempo-bobotie-de-nelson-mandela/