Ao longo da história da Itália, a penúria dos períodos de guerra deixou ao menos uma herança positiva: diante da escassez de ingredientes, as mammas exercitaram sua criatividade e criaram receitas que se tornaram clássicos da culinária. O nhoque se enquadra na categoria. Embora os historiadores não consigam precisar o momento exato, sabe-se que o primeiro prato de nhoque foi produzido até o século 17. Segundo Sílvio Lancellotti, autor de O livro da cozinha clássica (Editora L&PM), a farinha de trigo, racionada, não faltava na despensa dos ricos, que continuaram a cozinhar suas massas. Já os pobres precisaram inventar um jeito de transformar o pão velho na pasta nossa de cada dia – ralado ou moído, o pão era misturado com um tantinho de farinha e água quente. A massa era modelada em cilindros e cortada em toquinhos, que depois eram cozidos em água ou em um caldo de vegetais e ossos de galinha. E não é que ficava bom? Com o tempo, até os ricos copiaram a ideia. A batata foi a última a entrar na história, pois chegou à Europa no século 18.
Hoje, cada região da Itália tem sua versão de gnocchi (a grafia em italiano). Há receitas com ovos, com farinha de castanhas e ainda preparações doces. Os nomes variam – cavatelli e pisarei, em formato de conchinha, às vezes com ranhuras feitas numa tábua própria, são alguns exemplos.
No Brasil, impera a receita clássica dos nhoques de batata, que pedem um mínimo de farinha de trigo, só o suficiente para dar liga. Na tentativa de facilitar o trabalho de modelagem, muita gente exagera. “Nhoques ficam pesados e duros quando se abusa da farinha”, explica o chef piemontês Moreno Colosimo, autor da receita do gnocchi al sugo napoletano, do restaurante Piselli, em São Paulo. Entre seus segredos, está o uso da batata asterix, aquela de casca rosada. “Por ser mais seca, não requer tanta farinha para dar ponto”, indica.
E o ritual do nhoque da sorte, como surgiu? Dizem que, num certo dia 29, São Pantaleão chegou a um vilarejo e pediu comida a uma família pobre. O anfitrião dividiu a parca refeição com o santo e cada pessoa comeu apenas sete bolinhas de nhoque. Após as despedidas, os donos da casa encontraram moedas de ouro sob os pratos – daí nasceu o costume de se colocar uma nota ou moeda embaixo do prato de nhoque no dia 29, para atrair fortuna. Os fatos históricos, que pena, tiram um pouco do encanto da simpatia. São Pantaleão viveu entre os séculos 3 e 4, muito antes, portanto, de o próprio nhoque ter sido inventado. Seja como for, a história é bonita.
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